
Dirigir a maior comarca do Tocantins, em Palmas, onde atuam 490 servidores, entre os quais 26 magistrados titulares e três auxiliares, e tramitam atualmente 144 mil e 945 processos, pode parecer uma tarefa nada fácil. Mas não para a juíza Flávia Afini Bovo, que já está na Diretoria do Fórum da Capital há quase nove anos e encara a missão com naturalidade.
Representando as demais magistradas tocantinenses, a juíza diz se sentir privilegiada e à vontade à frente da Diretoria do Fórum de Palmas, função que quando assumiu seria para ficar no posto apenas por seis meses, mas já está há oito anos e seis meses.
“Eu vejo que, no cargo de direção, eu busco deixar bem claro que não existe uma questão de ser homem ou mulher quando eu trato com os meus subordinados. A gente sempre tenta ter esses tratamentos equânimes”, enfatiza, revelando que essa postura tem feito o diferencial no sentido de que os servidores a vejam não como uma mulher, mas como uma profissional.
Habilidades
Em 26 anos de carreira na magistratura tocantinense, Flávia Bovo conta que nunca sentiu qualquer diferenciação pelo fato de ser mulher e por estar num posto de comando, nem dentro da magistratura, nem tampouco em relação aos superiores hierárquicos e aos seus subordinados. Para a juíza, isso se deve ao fato de Tribunal de Justiça do Tocantins ter uma visão de trabalhar com as habilidades pessoais e profissionais das magistradas e dos magistrados.
Tanto que o TJTO já colocou em cargos de maior destaque outras mulheres, segundo cita a diretora da Comarca de Palmas, exemplificando as desembargadoras que já passaram pela Presidência da Corte, juízas que assumiram diretorias de fóruns e nomes que passaram pelo comando da Associação dos Magistrados do Estado do Tocantins (Asmeto).
De Araguacema a Palmas
Na magistratura tocantinense, Flávia Bovo já atuou em diversas comarcas, desde que ingressou na carreira, em 1997: Araguacema, Pedro Afonso, Gurupi, Tocantínia, Paranã, Guaraí, e hoje é titular da 2ª Vara das Fazendas e Registros Públicos de Palmas, respondendo pela diretoria do Fórum com exclusividade. Também já exerceu a função de juíza-corregedora.
Distâncias e dificuldades de comunicação
Para a magistrada, na carreira, o mais difícil foi se adaptar à vida de cidades pequenas por onde passou, no início. “Quando eu cheguei ao Tocantins, no final de 1996, e comecei a trabalhar no início de 97, as distâncias entre as comarcas eram muito longas, nós não tínhamos estradas asfaltadas”, lembra, citando que, além do acesso aos locais, havia também muita dificuldade de comunicação.
Atuação feminina expressiva

No Estado, a entidade que representa a magistratura tocantinense atualmente também é presidida por uma mulher. A juíza Odete Almeida, em seu segundo mandato à frente da Associação dos Magistrados do Estado do Tocantins (Asmeto), vê a atuação feminina na magistratura local como bastante expressiva. “Inclusive, atualmente, o nosso Tribunal de Justiça é comandado, em sua mais alta cúpula, por valorosas mulheres desembargadoras, cujo fato inédito certamente merece muitos aplausos”, destacou.
No entanto, no Poder Judiciário em geral, a presidente da Asmeto considera que o papel das mulheres em cargos de comando precisa alçar maiores voos. “A participação feminina em termos quantitativos ainda carece de uma maior desenvoltura”, frisa.
“Por outro lado, em termos qualitativos, e apesar dos padrões históricos de comportamentos no sentido de que é natural exigir de uma mulher o exercício profissional e doméstico em verdadeira tripla jornada - trabalho, casa e filhos -, tudo a tempo e modos oportunos, ainda assim em nada deixamos a desejar neste quesito”, comemora para em seguida lembrar. “Uma vez que somos aguerridas e ao mesmo tempo ponderadas, estudiosas, determinadas e aptas à gestão de forma inteiramente responsável em busca de um resultado exitoso”.