
Sentar e refletir, levantar e agir. Com esse lema foi instalado na noite desta terça-feira ( 20/8), na praça 7 de Setembro, em Colinas do Tocantins, o Banco Vermelho - uma ocupação urbana de 4 metros de comprimento por 1.80 de altura - que tem o objetivo de chamar a atenção da população sobre a importância do enfrentamento da violência contra a mulher e do combate ao feminicídio.
Iniciativa do Instituto Banco Vermelho (IBV) - entidade brasileira sem fins lucrativos e suprapartidária, dedicada à erradicar o feminicídio - o “Banco Vermelho” chega a Colinas por uma ação do Poder Judiciário do Tocantins, por meio da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid), e em parceria com a prefeitura municipal. A instalação é a primeira de 16 que a Justiça promoverá no Tocantins e faz parte da programação do “Agosto Lilás” - mês de proteção à mulher - proposto pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e com diversas ações realizadas pelo Judiciário tocantinense.
Durante a cerimônia de instalação, a presidente do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO), desembargadora Etelvina Maria Sampaio Felipe, assinou com o município de Colinas o Termo de Cooperação para a implantação do Projeto Banco Vermelho e desenvolvimento de ações de combate à violência contra mulheres.
“É muito importante que nós mudemos essa triste realidade. Nós precisamos enfrentar esse problema da violência doméstica. Sabemos que é muito difícil, é quase que uma mudança de comportamento, uma mudança cultural”, disse a desembargadora sugerindo que as iniciativas de prevenção comecem dentro da escola. “É lá nas escolas que as crianças aprendem e replicam em suas casas. Então é muito importante esse compromisso firmado hoje.”
A presidente ressaltou ainda que o banco vai ser instalado em Palmas e em outras 13 cidades do Tocantins onde o índice de violência doméstica é alto.
Nós precisamos dar visibilidade ao feminicídio, chamar atenção para essa realidade e dizer que está acontecendo, pois, acontece em qualquer família e não escolhe classe social. Todas as classes sociais estão sujeitas a terem em suas famílias essas ocorrências. Então, vamos trabalhar para que os nossos índices de violência contra a mulher sejam cada vez menores.
A Ouvidora da Mulher do TJTO, desembargadora Angela Haonat, em sua fala reforçou que a violência contra mulher afeta milhões de pessoas e que a situação não é diferente no Tocantins, com números crescentes, como pode ser visto no Violentômetro, ferramenta do Poder Judiciário do Tocantins que traz as estatísticas em tempo real.
Angela Haonat lembrou ainda que é preciso agir hoje para um futuro melhor, já que, segundo ela, a violência doméstica atinge não só a mulher, mas todos os familiares, trazendo consequências para crianças até mesmo em questões comportamentais e de aprendizagem. “A mulher quando submetida a violência, também sofre consequentemente quadros depressivos e outros problemas de ordem como o alcoolismo, a questão das drogas, como reflexo das agressões. Então, é preciso mais uma vez que todas(os) nós estejamos juntas(os) nessa luta, que possamos juntas(os) construir um futuro livre da violência doméstica, onde todas as pessoas possam viver com paz e dignidade.”
Coordenadora do Cevid, a juíza Cirlene Maria Assis agradeceu a presidência do TJTO por acreditar na inciativa do Banco Vermelho. Ela reforçou que o Banco fica na praça em um ponto de destaque, onde as pessoas possam sentar, fotografar, mas, mais do que isso, possam seguir o lema "sentar, refletir, levantar e agir”. Ela explicou ainda que o Banco tem a cor vermelha porque representa o sangue derramado das mulheres que foram mortas “pelo simples fato de serem mulheres”. A magistrada ressaltou ainda que o tamanho do banco representa a importância da luta contra o feminicídio.
“No Brasil, em 2023, foram mortas 1.463 mulheres, mortas pelo fato de serem mulheres. No Tocantins, a situação é um pouco pior, porque em 2023 houve um aumento de 28,6% de casos de feminicídio em relação ao ano de 2022. Então, o que a campanha do Banco Vermelho visa é conscientizar toda a sociedade de que nós precisamos nos mobilizar para combater a mortandade dessas mulheres.”
Representando o município, a secretária de Assistência Social, Ludmila Olímpio Maione Moreira, disse que a instalação do Banco Vermelho é um momento muito importante para a cidade e também para todas as mulheres que lutam diariamente por um mundo mais justo e seguro. “O lançamento do projeto Banco Vermelho aqui em Colinas não é apenas a instalação de um símbolo físico em nossa praça, é um grito coletivo com justiça, igualdade e respeito. Este banco vermelho, como sangue derramado por tantas mulheres vítimas de violência, é um alerta permanente sobre a urgência de ações e políticas públicas que promovam a segurança e a dignidade de todas as mulheres”.
Projeto Transformação
Durante a cerimônia de instalação do Banco Vermelho, a presidente o TJTO, desembargadora Etelvina Felipe, assinou também a Instrução Normativa nº 15 que institui o Programa “Transformação”. O objetivo do projeto é fomentar a adoção de políticas afirmativas que possibilitem a redução das desigualdades e inclusão social no mercado de trabalho de mulheres integrantes de grupos vulneráveis. Na prática, o Transformação permitirá a reserva de 5% das vagas dos contratos de serviços contínuos licitados pelo Poder Judiciário para mulheres vítimas de violência, mulheres trans e travestis, migrantes e refugiadas, em situação de rua, egressas do sistema prisional, indígenas, campesinas e quilombolas. O projeto faz parte das ações do Poder Judiciário do Tocantins previstas para este Agosto Lilás.
A iniciativa
No Brasil a iniciativa do Banco Vermelho surgiu da experiência pessoal de duas mulheres de Recife (PE), a publicitária e ativista Andrea Rodrigues e a executiva de marketing Paula Limongi, que tiveram amigas assassinadas por seus companheiros.
O governo federal lançou, no último dia 1º de agosto, o projeto para todo o país, a partir do lançamento, em lugares de alto fluxo será instalado um grande banco vermelho com contatos de canais de ajuda para realização de denúncias e suporte às vítimas de violência doméstica. Desde então, já foram instalados mais de 30 bancos vermelhos em mais de dez estados, incluindo o Senado e o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
No Tocantins, o projeto prevê a instalação de 16 bancos gigantes em locais públicos, nas cidades com o maior índice de violência doméstica como forma de conscientização e combate ao feminicídio.
Instituto Banco Vermelho (IBV)]
O Instituto Banco Vermelho (IBV) é uma entidade brasileira sem fins lucrativos e suprapartidária, dedicada à missão de erradicar o feminicídio no Brasil. A entidade promove o combate à violência contra a mulher por meio de intervenções urbanas, movimentos culturais e ações educativas.
O IBV foi fundado em 25 de novembro de 2023, tendo como marco o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher. A iniciativa surgiu da experiência pessoal de duas mulheres de Recife (PE), a publicitária e ativista Andrea Rodrigues e a executiva de marketing Paula Limongi, que transformaram o luto pela perda de entes queridos em um movimento ativo pela mudança.
O Instituto visa o #feminicídiozero não como um ideal inalcançável, mas como um compromisso coletivo. Para aumentar a conscientização, o IBV utiliza bancos vermelhos gigantes em espaços públicos e privados. Esses bancos não apenas promovem a reflexão sobre o tema, mas também fornecem informações sobre canais de apoio às vítimas. Eles servem como pontos de acolhimento, reflexão e informação.
Em 31 de julho de 2024, o Presidente Lula sancionou a Lei nº 14.942, que incorpora iniciativas do IBV ao "Agosto Lilás", o mês dedicado à proteção das mulheres. A lei prevê a instalação de bancos vermelhos em locais públicos e a premiação de projetos relacionados à conscientização e enfrentamento da violência contra a mulher.