
Natural de Patos de Minas (MG), 45 anos, casado, dois filhos, amante do futebol, ministro extraordinário da Eucaristia da Igreja Católica ao lado da esposa. Estas são apenas algumas características que definem o juiz titular da Comarca de Alvorada, Fabiano Gonçalves Marques, mas ele enfatiza:
“Sou mineiro, de Patos de Minas, porém, aos nove anos eu vim pro Tocantins com meus pais, que eram professores, e vieram pra Colinas procurando uma vida melhor. Por isso, costumo dizer que, em Minas Gerais, a única coisa que eu tenho recordação, além dos parentes, é meu time, o Cruzeiro. Porque meu amor mesmo, de verdade, é pelo Tocantins”.
A história de vida do juiz Fabiano ilustra o mês de Junho do calendário institucional 2024. O produto, juntamente com a agenda, faz parte do kit comemorativo dos 35 Anos do TJTO e traz uma série especial com homenagens a pessoas que contribuíram para a construção da história da Casa de Justiça. As 11 histórias estão publicadas no site do TJTO e o acesso pode ser feito pelo QR Code disponível em cada mês do calendário.
Do sonho de ser juiz nascido nos bancos da faculdade até a carreira no Judiciário
Falando em atuação como juiz, o sonho da carreira de magistrado nasceu nos primeiros dias de faculdade. Fabiano Marques conta que veio de uma família de pequenos comerciantes do ramo da confecção e que ele demorou a despertar o interesse em fazer o vestibular.
Apesar da conclusão do ensino médio ter sido aos 16 anos, o vestibular para a faculdade de Direito veio somente aos 20 anos, quando começou a graduação em São José do Rio Preto (SP), onde foi morar com o tio.
A conclusão do curso aconteceu na PUC de Goiânia após pedir transferência para que, assim, pudesse ficar mais perto dos pais e de sua então namorada, hoje esposa, Marília Araújo Peixoto Marques. Na época, eles moravam na cidade de Rubiataba (GO), a cerca de 200 km de distância da capital goiana.
O magistrado foi o primeiro da família a se formar na área do Direito, um incentivo para a irmã que hoje é analista do Ministério Público da União (MPU).
Eu não tinha esse sonho de ser juiz, na verdade. Mas, desde o início, quando comecei a faculdade de Direito, aí sim eu quis ser juiz. Tanto que só fiz concurso pra juiz, com exceção de um concurso que fiz em Goiás pra promotor de justiça, quando eu fiz a prova com vontade de não passar. Fazia concursos pelo Brasil inteiro e, em 2007, passei no concurso do TJTO. A gente leva uma vida normal, gostamos muito daqui, mas até chegar à magistratura, ninguém vê o que a gente passa pra chegar aonde a gente chega. São muitas privações, principalmente da vida social, temos que nos dedicar muito aos estudos. Não se dorme e acorda juiz.
Aos 45 anos, Fabiano Marques tem 16 anos de magistratura. Ele começou como juiz substituto em Colinas, na Vara de Família, Infância e Juventude. De lá, seguiu para Comarca de Dianópolis, também como juiz substituto e assumiu como juiz titular da Comarca de Figueirópolis, na sequência. Em 2012, chegou à Comarca de Alvorada onde atua até o momento. O magistrado atua ainda como juiz auxiliar da Comarca de Gurupi, na 1ª Vara Cível.
“Já estou aqui há 11 anos, é uma comarca que eu gosto muito. Eu sempre privilegiei a questão familiar, então eu já poderia estar em Palmas se eu quisesse como outros colegas que estavam atrás de mim na carreira me passaram e foram para lá, mas eu não quis ir. Então é uma opção de carreira e de vida mesmo, de vida pessoal, estar aqui em Alvorada”.
À frente da Comarca, o juiz se define assim: “nem chefe, nem líder, digo que sou um amigo”. Característica evidenciada quando a entrevista se encerra e ele questiona: “Cadê meu povo? Quero me despedir”, aqui leia-se todo o quadro funcional do Fórum. Ele pede licença, se despede e segue atrás dos “seus amigos”. Quem o atende é o secretário da Comarca, Fábio Adriane de Oliveira, 48 anos, o mesmo que recebeu, com muita cordialidade, a equipe de reportagem.
“Conheci ele antes da minha esposa, há 26 anos, em Rubiataba. Há quatro anos, eu o convidei pra ser o secretário e deu certo, pois ele tinha acabado de ser demitido e eu precisava de uma pessoa de confiança. E a gente consegue separar muito bem as coisas”.
Fé e família como pilares
Sempre priorizando a família, foi com o apoio de sua esposa, Marília Araújo Peixoto Marques, 40 anos, que Fabiano Marques se orgulha em dizer que chegou aonde chegou. “Eu lutei com o apoio da minha família, da minha esposa, dos meus irmãos. Teve o período de morar na casa do meu tio, do namoro à distância com as cartas e, nisso, estamos aí há 26 anos juntos, 20 de casamento. Agradeço a Deus pela minha esposa, por todo esse momento em que ela está ao meu lado, sempre me acompanhando e auxiliando. Ela começou comigo lá de baixo. Chegamos a morar em uma casinha lá em Goiânia que era da irmã da minha esposa, uma casa no chão vermelho, que tinha praticamente três cômodos. Tinha dois quartos, um banheiro e uma sala. Pegamos a garagem e abrimos uma loja muito pequena de roupas. E hoje estamos aí com nossos filhos e uma vida melhor”.
Marília estava lá, aguardando o esposo terminar de conceder a entrevista para levá-lo na faculdade. Sempre parceira do marido, ela explica que as andanças nas comarcas ao seu lado lhe renderam o papel de ouvinte, pois em alguns caso ela ajudava em trabalhos sociais com mulheres detentas. “A gente ia ao presídio feminino levar a palavra de Cristo, levar algumas ideias como a implantação de horta, confecção de pano de prato e isso despertou em mim o desejo de cursar a Psicologia”, disse.
Devotos de Nossa das Graças, Fabiano e a esposa Marília, são pais da Eduarda, 16 anos, e do Enzo, 10 anos. Também são ministros extraordinários da Eucaristia e evangelizadores do "Segue-me", um movimento de evangelização de jovens da Igreja Católica, surgido em Brasília.
A paixão pelo futebol e os dribles nos desafios profissionais
“Craque igual ao Neymar”, brinca o juiz apaixonado por futebol. “Fiz uma cirurgia recentemente, pois rompi o ligamento do joelho. Na verdade tive as mesmas lesões que ele, uma ruptura do ligamento cruzado anterior e outra do menisco”, explica dizendo ainda que tem um time com os amigos, o “FUT Tá Chovendo Aí”.
É com essa leveza que o juiz Fabiano Marques nos concede a entrevista, logo após uma audiência de divórcio, na qual ele comentou sobre a linha tênue entre o amor e o ódio. “Fico observando, depois de quase 16 anos (sendo magistrado), e atuando nessa área de Família também, como que o amor e o ódio estão próximos. Na mesma hora em que as partes estão se amando e dizendo ‘meu bem pra cá, meu bem pra lá’, daqui a pouco eles estão, ‘meus bens pra cá e os seus bens pra lá’. Então, já começa aquela confusão, aquela briga e a gente tem que tentar, da melhor forma possível, solucionar o caso”, disse.
Outro fato inusitado que o juiz Fabiano conta é que quando era juiz substituto em Dianópolis, teve um pedido de mudança de nome, no qual o novo nome, a seu ver, seria mais constrangedor do que o antigo. “Mesmo entendendo que o novo nome era uma escolha diferente, pior ainda que o primeiro, acatamos o pedido da parte, por entender que o nome dela lhe causava constrangimento. E a gente defende o conforto do cidadão, que ele saia realizado".