
Encontro marcado
Eles vieram de Paraíso do Tocantins especialmente para se casar em Luzimangues. André Alves da Silva e Débora Moura eram só felicidade depois de finalmente formalizarem o tão esperado casamento. Ela, mãe de quatro filhos; ele, pai de três.

“Quando um coração que está cansado de sofrerEncontra um coração também cansado de sofrerÉ tempo de se pensarQue o amor pode de repente chegar”

Quando existe alguém que tem saudade de alguémE esse outro alguém não entenderDeixe esse novo amor chegarMesmo que depois seja imprescindível chorar
Repercussão
“Emocionante, tomarem coletivamente a decisão de se instituir como uma família juridicamente clássica. Esse gesto é o que nós chamamos de cidadania ativa”, destacou o juiz auxiliar da Corregedoria-Geral da Justiça, Arióstenes Guimarães Vieira.
“Por isso que o Judiciário agora participa, fomenta e incentiva movimentos como esses, visto que nós estamos concretizando muitos objetivos da constituição, que é construir uma sociedade solidária e livre”, reforçou.
É uma forma de inclusão social para essas pessoas, os hiposuficientes, aqueles que não têm condições de arcar com casamento, por isso tomamos essa iniciativa exatamente para que elas regularizem a união-estável, casando. Ou seja, dando a elas dignidade e incluindo-as na sociedade”, destacou o juiz Ciro Rosa, coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc-Porto).
Sonho que vem no seu tempo, com respeito e sem preconceito
Foram 26 anos para reafirmar o "SIM" que o jardineiro Adão Pereira dos Santos, 52 anos, e a dona de casa Maria Santana Vieira dos Santos, 48 anos, disseram ainda na juventude. Morando juntos há mais de duas décadas e com dois filhos, eles decidiram regularizar a situação.
“Deus colocou o Adão na minha vida. A gente já morava junto há muito tempo e o nosso sonho era casar. Muito tempo esperando e agora chegou. Tudo tem seu dia e sua hora. Chegou o dia”.
“Eu ficava esperando, adiando, adiando, mas esses dias eu tomei a decisão, depois de um acidente que tive. Fiquei doente, perdi a memória e foi quando eu vi que realmente a gente tem que ter uma família. Uma pessoa que apoia a gente nas horas difíceis.”
Palavras de noivos ansiosos que realizaram um grande sonho, como outros 48 casais que participaram do Casamento Comunitário realizado no último sábado (28/10) pelo Poder Judiciário, por meio do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) de Araguaína, com o projeto “Cejusc Para Todos”.
Com vestido branco e buquê nas mãos, Adão e Santana selaram o amor, o encontro e o reencontro. Testemunhados pelos filhos Lucas e Vitória, mais que realizar um sonho viram o quanto a justiça é importante para garantir direitos e deveres familiares. “Esse projeto é muito bom. O Fórum está aproximando da comunidade, das pessoas carentes que, assim como eu, não tinha dinheiro para pagar pelo casamento.”
Respeito à diversidade
Direito garantido também ao casal Brenda Rodrigues Alencar e Vanessa Alves Oliveira. Que abriram caminhos para outras pessoas que querem oficializar união homoafetiva. Aos 27 anos e com três anos de relacionamento, elas não se intimidaram ao mostrar o amor que sentem e ultrapassar as barreiras que muitas vezes são impostas. Foi o primeiro casal homoafetivo de um Casamento Comunitário realizado pelo Cejusc de Araguaína.
O pedido de casamento feito pela Vanessa foi em outubro de 2022, no aniversário da Brenda. A previsão era de que oficializassem, em maio de 2023, mas por questões financeiras o sonho foi adiado. Mas por meio de um anúncio de um Casamento Comunitário, no município de Filadélfia, descobriram que haveria cerimônia também em Araguaína. “Vim aqui no Fórum no último dia, pediram a documentação e a partir daí foi um reviravolta. Tive que pedir pra sair do meu trabalho, resolver certidão de nascimento. Mas foi rápido, demos entrada na documentação. Fomos ao cartório, levamos as testemunhas e desde então, só ansiedade”, contou Vanessa.

Vestidas de noivas, passaram pelo tapete vermelho, colocado no Fórum de Araguaína e, em pequenos gestos, mostraram que só querem respeito. “Temos colegas que registraram, mas não em casamento comunitário, não sei se por não saberem ou por medo de não sentirem abraçadas pela sociedade, pelo projeto em si. Nosso casamento pode abrir portas para que possam acontecer outros, e que isso aconteça de verdade”, observou Brenda.
Seguindo e respeitando o tempo e as escolhas, Brenda e Vanessa deram um passo importante, como ressaltou Vanessa. “Somos um casal como outro casal qualquer. A gente se respeita, luta pra crescer junto pra ter o respeito de todo mundo. A gente respeita para ter o respeito.”
E no ir e vir da vida, em meio à correria, os encontros e desencontros, o Adão, a Santana, a Brenda e a Vanessa e os demais casais apostaram no amor, no respeito e na esperança de dias cada vez melhores.
Que tola fui eu que em vão tentei raciocinar
Nas coisas do amor que ninguém pode explicar
Vem, nós dois vamos tentar
Só um novo amor pode a saudade apagar
- Letra da canção "Caminhos Cruzados" de Tom Jobim
Cidadania e Justiça
O coordenador do Cejusc em Araguaína, juiz Deusamar Alves Bezerra ressaltou o alcance social do Casamento Comunitário “na medida em que legaliza a situação de fato (união estável) da maioria dos casais e proporciona oportunidades para jovens casais de baixa renda que não teriam oportunidades de se casarem sem a isenção dos emolumentos cartoriais”.
O magistrado enfatizou ainda que o projeto possibilita a obtenção de alguns direitos que exigem a prova do casamento, sem ter que percorrer outros caminhos. “Além do que, proporciona a satisfação e a realização dos sonhos dos casais que sonhavam em se casar. O casamento se torna a concretização dos sonhos dessas pessoas. E, constitui também uma forma de inclusão social.”